UM EXEMPLO

Uma amiga mexicana me mandou uma imagem: dois homens de terno (o terno indica uma classe social que não é a popular) conversam. Um diz: – Me corrigieran “Ler”. O outro responde: – No lo puedo “Crer”.

Não me dei conta, imediatamente, do que estava em jogo (tratando-se de outra língua, a presteza nunca é muito grande). Perguntei detalhes (não vou me imolar aqui…). Ela me deu o contexto, que é o seguinte:

Um Secretário de Instrución Pública falava a um grupo de alunos em uma escola e os incentivava a “ler” (ele disse “ler” mais de uma vez). Ao final, uma menina o chamou de lado e lhe informou que não se diz “ler”, “pero ‘leer’”. Ele achou graça, elogiou a aluna etc.

Depois disso é que surgiu a piada narrada no primeiro parágrafo, uma montagem. A graça está no fato de que, na resposta (no lo puedo “crer”), ocorre o mesmo fenômeno que ocorre em “ler”.

Que é o seguinte: em espanhol “culto”, as formas do infinitivo destes dois verbos são “leer” e “creer”. O fato de o Secretário dizer “ler” indica, evidentemente, que esta pronúncia está desaparecendo: as duas vogais são substituídas por uma só (há uma crase): “ler” e “crer”.

Observe-se que o fenômeno ocorre nos dois casos, o que favorece a tese dos sociolinguistas que defendem que, nos mesmos contextos, ocorrem as mesmas variações (ou mudanças).

Observe-se, também, que esta mudança em curso no espanhol (do México, pelo menos), como o indica a fala do secretário, e depois, a montagem com “crer”, já ocorreu no português.

Mesmo quem não conhece linguística histórica ou não tem um manual que descreva as mudanças ocorridas pode ver o registro em dicionários como o Houaiss, que fornece uma etimologia mínima (eu grifo leer e creer):

ler: cf. esp. leer, it. lèggere, fr. lire; ver le- e leg- e as remissivas aí citadas; f.hist. 1258-1261 leer, sXIII liia, sXIII leer, sXIV leendo, sXIV lyi, sXV le, sXV leese, sXV lia

crer: pelo lat. vulg. *credére > port. arc. creer; ver cred-; f.hist. sXIII creer, sXIII creo, sXIV creyo, sXV crer, sXV creio

O fato histórico pode ser atestado. E a variação no espanhol deve ser bem óbvia, pelo menos para muitos falantes. Se não fosse, a piada não funcionaria (como não funcionou comigo).

Observe-se, também, por muito relevante, que uma aluna de uma escola modesta aprendeu que se deve dizer “leer”.

É um fato conhecido que instituições diversas (a escola, a imprensa, a própria escrita) retardam mudanças linguísticas. Pode-se apostar que, se essas instituições não existissem, ou se sua política fosse outra, ninguém mais saberia que as formas verbais em questão são (?) “leer” e “creer”. Aliás, para os falantes menos letrados, e mesmo para letrados em situação informal, já não são essas.

A piada seria impossível.

O que seria lamentável.

 

JÔ É JÔ E AS MENINAS DO JÔ SÃO AS MENINAS DO JÔ

Luis Nassif publicou texto bem interessante no seu GGN de 17/9/2016 (foi compartilhado no Facebook). Comenta as burradas de Jô Soares e de suas meninas no programa do dia 14/09, em especial no que diz respeito a comentários bastante primários sobre um slogan até antigo (País rico é país sem pobreza). Riram, acharam uma bobagem, estranharam que ninguém tivesse chamado a atenção dos governantes de que se trata de uma besteira.

O mais engraçado de tudo eram os/as patetas rindo. Sabe aquele ar de satisfação, porque “nós sabemos que isso é uma redundância” e eles, esses governantes do PT, não sabem?

Como são ignorantes!

Claro que não se pode esperar que tenham lido Frege. “Sentido e referência” começa exatamente interrogando a diferença entre sentenças do tipo “Brasília é Brasília” e “Brasília é a capital do Brasil”.  “Brasília é Brasília” seria uma tautologia (uma redundância, disseram lá no programa do Jô). Já “Brasília é capital do Brasil” é uma sentença com a mesma referência, mas com outro sentido (“Brasília” e “capital do Brasil” apresentam Brasília de maneiras diferentes). Mais ou menos como “Jô” e “O Gordo” apresentam Jô Soares de maneiras diferentes.

Imagine se eles leriam isso!!

As gramáticas apresentam (quando o fazem) a redundância entre os vícios de linguagem (olhei algumas e não encontrei nada sobre o tema; ou seja, não devem mais se dedicar tanto a ele). Em alguns lugares, na internet, encontrei o tópico tratado junto com “pleonasmo vicioso” (como “repetir o mesmo”).

Mas o slogan que a trupe estava criticando não tem nada de vicioso. Nem de redundante. “País rico é país sem pobreza” é uma tese, uma interpretação de riqueza. Nassif mostra com dados e com hipóteses como pode haver países ricos com pobreza (é o que mais tem, aliás): medindo-se a riqueza pelo PIB ou pela renda per capita, por exemplo. Como se trata de médias, os índices resultantes podem ser elevados, o quem não impede que haja pobres.

Assim, “país rico é país sem pobreza” é um slogan que se opõe a outras maneiras de definir países ricos, como, por exemplo, os dois casos mencionados: com PIB e renda per capita elevados. Opõe-se, então, a slogans – ou outros tipos de afirmação – possíveis como “País rico é país com PIB elevado…”, “… que cresce”, “… que tem indústrias”, “… que tem governo de direita” etc. Questões de interdiscurso, de que aquele grupelho nunca ouvir falar, evidentemente.

Fiquemos nas ditas redundâncias. Suponha um exemplo: alguém está tomando cerveja há algum tempo e se queixa de não estar ficando alto (era o que queria). Você pode dizer: “cerveja é cerveja”. Isso quer dizer que uma coisa é ela mesma? Não! Isso tem sentidos como “cerveja não embebeda / tem pouco álcool” etc. Se o bebedor se queixar de que a sede não passa, a resposta pode ser a mesma, mas então significará algo como “cerveja tem álcool / não mata sede” etc.

Outro exemplo: se alguém se queixar de um homem que prefere futebol a sexo (parece que é o caso dos ingleses, segundo uma pesquisa recente), você pode fazer o seguinte comentário: “homem é homem”. Se você disser “Mulher é mulher”, “Dilma é Dilma”, “Serra é Serra”, em nenhum caso estará sendo redundante. O sentido mais exato do enunciado dependerá de circunstâncias, do tema de que se trata etc.

Enfim: se alguém se queixar do baixo nível dos comentários sobre linguagem dos componentes do programa do Jô em uma das sessões com suas meninas (meninas?), você pode simplesmente dizer “Você queria o quê? O Jô é o Jô” e “As meninas do Jô são as meninas do Jô”. Esperava o quê?

Redundância? Nada! Predicação na veia!

Para bom entendedor, meia palavra bos…

ASSIM É, SE LHE PARECE

Nos debates sobre impeachment no Senado, uma bancada acusava outra de estar promovendo um golpe. Esta bancada rejeitava a pecha, mas replicava com “golpe são os 12 milhões de desempregados” etc. Publico aqui parte de um artigo que submeti a uma revista sobre a semântica de “golpe”. Algumas coisas vão ficar meio vagas, aqui. Espero que não no artigo.

 ***

 Em relação ao sentido de “golpe” e a sua adequação ao evento em curso no Brasil, há duas posições básicas e claramente opostas. Os que consideram que há golpe e os que pensam que não. A declaração seguinte, de Eduardo Cardozo, que estava na Advocacia Geral da União, defensor de Dilma em todo o processo, resume bem o primeiro posicionamento:

 Golpe de Estado é derrubar ilegalmente um governo constitucionalmente legítimo. Os golpes de estado podem ser violentos ou não (…). O golpe de estado pode consistir simplesmente na aprovação por parte de um órgão de soberania de um diploma que revogue a constituição e que confira todo o poder do Estado a uma só pessoa ou organização, ou também um golpe militar, em que unidades das forças armadas ou de um exército popular conquistam alguns lugares estratégicos do poder político para assim forçar a rendição do governo. Para ser considerado golpe de Estado, não necessariamente o governante que assumiu o poder pela força tem de ser militar…

O que é interessante observar é que os adversários da tese do golpe aplicam a palavra a casos menos próximos de um golpe prototípico do que o processo que tenta derrubar Dilma. Vejam-se, por exemplo, as duas declarações seguintes, uma de Michel Temer, que se tornou manchete (duas, na verdade): “NOVAS ELEIÇÕES? PARA O VICE MICHEL TEMER, ANTECIPAR O PLEITO É GOLPE” / “GOLPE É ROMPER COM O QUE ESTÁ NA CONSTITUIÇÃO, DIZ TEMER”, e a de um dos principais assessores de Temer, Romero Jucá: “GOLPE É CONVOCAR NOVAS ELEIÇÕES”.

Parece razoável dizer que, se o impeachment não é golpe, porque segue determinadas regras, muito menos seria um golpe a convocação de novas eleições, que só poderiam acontecer após mudança na Constituição e, portanto, seriam constitucionais.

Anoto ainda outro enunciado que desestabiliza a oposição aparentemente pacífica entre os grupos pró e contra. Bolívar Lamounier, valorizado representante do discurso de que não há golpe, declarou que a abertura do processo foi um contragolpe democrático (foi título de uma coluna na FSP em 21/4/2016). Ora, contragolpe é golpe!

Outros enunciados revelam este jogo em que a bola é a palavra “golpe”. Uma carta de leitor de 29/07/2016 (Folha de S. Paulo) defende que “o verdadeiro golpe está acontecendo agora na Turquia. Os expurgos constantes e as restrições da liberdade de imprensa são um retrocesso à democracia”. E uma nota da coluna Painel, no dia 27/07, no mesmo jornal, informa que a atual advogado geral da União terá declaração citada na defesa de Dilma no Senado. É que, em 2015, usou a expressão “golpe revestido de institucionalidade” para se referir ao processo que estava para começar (para ele, antes era, agora não é mais “golpe”).

Mas os enunciados mais representativos do jogo que consiste em considerar que golpistas são os outros foram proferidos quatro anos antes, especialmente a propósito de acontecimentos que sucederam ao golpe contra o Presidente Lugo, do Paraguai, em 2012.

Uma das evidências de que “golpe” é uma arma ideológica prête-à-porter é seu emprego conjuntural. Um bom exemplo foi o tratamento dado ao “impeachment” de Lugo, no Paraguai, e a alguns desdobramentos decorrentes da interpretação desse acontecimento por presidentes de países membros do Mercosul.

Vinícius Souza publicou matéria no blog “Opera Mundi”, em 01/10/2012, na qual afirmava que cooptar militares para derrubar governos “vermelhos” deixara de ser condição sine qua non, e chamava de golpe parlamentar/midiático o evento que teve no centro o presidente Jorge Zelaya, em Honduras. A destruição da imagem pública do governante, basicamente pela mídia, de certa forma passou a ocupar o lugar da conspiração militar. Tal ação é seguida por uma decisão do Congresso, que garante um “verniz” de legalidade ao processo, disse ele.

Creio que ocorre a muitos que se trata de um discurso das esquerdas, que trataria negativamente aqueles fatos, por considerar seu desfecho perigoso e favorável a segmentos sociais mais conservadores. Nesta leitura, a “esquerda” abusaria da palavra “golpe” (o que muito se repete hoje na imprensa e nas redes sociais).

Ora, verifica-se que a “direita” se valeu da mesma palavra para designar movimentos havidos no Mercosul após a queda de Lugo. Considere-se o seguinte excerto (29/6/ 2012, acessível em http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/67248/Abril-trata-como-golpe-Venezuela-no-Mercosul.htm): “As bruxas estão soltas na América Latina. Se alguém acessar agora a página principal da Veja.com, porta de entrada da Editora Abril na internet, poderá se imaginar de volta aos tempos da Guerra Fria. O site denuncia um “golpe” do Mercosul, ao permitir o ingresso da Venezuela no Mercosul (ênfase acrescida). Para a Abril, democrática foi a transição política no Paraguai, em que um impeachment se processou em menos de 48 horas”.

Observe-se uma espécie de inversão: segundo a notícia, Veja considerou a “derrubada” de Lugo legal, mas chamou de golpe à decisão do Mercosul de permitir a entrada da Venezuela.

Muito significativo é o artigo de Reinaldo Azevedo (que publica um blog hospedado na Veja). A chamada é “Golpe no Mercosul – Dilma chuta a democracia, acolhe uma ditadura e vira coadjuvante de Cristina Kirchner”. O texto, resumidamente, afirma que oS governos da Argentina, Brasil e Uruguai suspenderam o Paraguai do Mercosul e aproveitaram, eles sim, para dar um golpe cartorial e burocrático. Fizeram rigorosamente aquilo que acusam o Senado paraguaio de ter feito: deram um golpe branco (atenção a “branco”). E continua: “Há, sim, uma nova modalidade de golpe na América Latina: o golpe das eleições!”.

Há mais: artigo de Augusto Nunes (adversário notório do “lulismo”, o que inclui os governos Dilma), publicou texto em seu blog sobre este tema, na ocasião. O título dá o tom:Os três patetas do Mercosul usaram o golpe que não houve no Paraguai, como pretexto para a execução de um golpe de verdade”.

O texto prossegue: “O golpe que não houve no Paraguai foi o pretexto invocado pelos parceiros vigaristas para a consumação de um golpe real (ênfase acrescida). O impeachment de Fernando Lugo foi decretado sem que qualquer norma constitucional fosse violada. Mas “(…) golpe é o nome da coisa” é a afirmação por meio da qual avalia a entrada da Venezuela no Mercosul.

 

DE NOVO!

Não gosto muito de argumentos que começam com “os homens são / as mulheres são”, especialmente quando se trata de opções políticas ou assemelhadas. Andei lendo por aí que são os homens que querem a Dilma fora. Há muita razão nisso, a meu ver, porque acho mesmo que, se o presidente fosse homem, o golpe não prosperaria. Também é verdade que três mulheres sustentaram de maneira muito aguerrida e competente a causa de Dilma na Comissão do Senado (que teve o discreto senador Anastasia como relator).

Não esqueçamos Kátia Abreu, que deixou suas convicções ideológicas em segundo plano e defendeu a honestidade de Dilma com o dedo na cara de uma multidão de homens suspeitos – dos cabelos pintados às contas suspeitas.

Mas houve Marta Suplicy, mulher. E houve outras na mesma casa.

Dilma pediu para ser chamada de presidenta. E agora vem Carmen Lúcia, que acaba de ser eleita presidenta do Supremo, dizendo que quer ser chamada de “presidente”. E, para variar, forneceu um argumento ridículo e desinformado: “Eu fui estudante e sou amante da Língua Portuguesa”.

O que quer dizer “fui estudante?” Que houve um período de sua vida em que a atividade principal foi estudar? E daí? Sorte, Dona Cármen. Muita gente não tem tal oportunidade. Ou que estudou de fato (quer dizer que outros não?), e por isso ama a língua?

Deve ter faltado a alguma aula, eu acho, ou teve professor(a) pouco lido(a), porque a forma “presidenta” não é estranha à escola, quando a escola tem mesmo estudantes (e professores!).

É verdade, ressalve-se, que não disse ser amante da gramática e dos dicionários (embora talvez pense que isso está implícito. Mas, se estiver, é outra bola fora).

Já que juristas gostam de argumentos de autoridade, vamos lá. Consideremos dois dicionários de respeito. O Caldas Aulete, na edição de 1974, que é a quarta. Lá está o verbete “Presidenta”. A acepção é  “mulher que preside; esposa de um presidente”.

Anotar que se trata de um substantivo feminino equivale a dizer que não é uma flexão de “presidente”, o que se pode discutir (não é o que diria Bechara, cf. abaixo). Mas Carmen Lúcia não deve estar ligada nestas firulas (é uma amante da língua; não quer dizer que seja uma profissional).

Vejamos agora o Houaiss. O verbete está lá:

substantivo feminino

1            mulher que se elege para a presidência de um país (grifo meu)

Ex.: a p. da Nicarágua

2            mulher que exerce o cargo de presidente de uma instituição (idem)

Ex.: a p. da Academia de Letras

3            mulher que preside (algo) (idem)

Ex.: a p. da sessão do congresso

4            Estatística: pouco usado.

esposa do presidente

Agora, vejamos “presidente”, nos mesmos dicionários:

Segundo o Houais:

indivíduo que preside (algo)

1     indivíduo que dirige os trabalhos numa assembléia, congresso, conselho, tribunal etc.

2     título oficial do chefe do governo no regime presidencialista

3     título oficial do chefe da nação nas repúblicas parlamentaristas

4     título que às vezes se dá ao dono ou ao diretor-geral de uma empresa, clube, banco etc.

–  adjetivo de dois gêneros (1664)

5     que preside, que dirige

Em 1, o que consta é indivíduo. Em 5, “que preside”, que não marca gênero. Nos outros casos, pode-se dizer que as mulheres não estão incluídas: do chefe, o chefe, ao dono, ao diretor.

Vejamos “Presidente”, segundo o Aulete digital:

  1. Pessoa que chefia conselho, tribunal, assembleia etc.: presidente da Câmara dos Deputados.
  2. O chefe de Estado de um país que adota o presidencialismo (presidente da República)
  3. Pessoa que preside a um ato, concurso, empresa etc.: presidente da banca examinadora.

Duas acepções nem incluem nem excluem mulheres, mas a outra exclui.

Já o Aulete impresso produz o mesmo efeito (ia dizer “a mesma impressão”) que o Houaiss:

O que preside…

Título oficial do chefe de estado…

O que preside um ato…

Finalmente, vamos a “amante” (segundo o Houaiss)

– adjetivo e substantivo de dois gêneros

1     que ou aquele que ama; namorado, apaixonado

Ex.: <amado a.> <a. latino>

2     que ou aquele que tem gosto ou inclinação por alguma coisa; amador, apreciador

Ex.: a. das artes

 substantivo de dois gêneros

3     pessoa que tem com outra relações sexuais mais ou menos estáveis, mas não formalizadas pelo casamento; amásio, amásia.

Creio que a acepção que importa (que estava na cabeça de Cármen Lúcia) deve ser a que grifei. Mas veja-se como é ambígua: ter gosto ou inclinação é como gostar de fazer poemas no final de semana aos 17 anos (poeta não tem gosto nem inclinação. Trabalha pesado. E lê tudo).

Talvez Carmen Lúcia seja amadora na questão. Então, ajuda espiar “amador” (Houaiss): entre outras coisas (não estou sonegando nada relevante) é “aquele que ainda não domina ou não consegue dominar a atividade a que se dedicou, revelando-se inábil, incompetente etc.; inexperiente” ou: “que ou quem entende apenas superficialmente de algum assunto ou atividade”.

Diria, sendo legal, que, no caso, se trata mais da segunda acepção do que da primeira. Afinal, ela não se dedicou à língua, mas ao direito.

Campo em que esperamos que seja profissional.

Não citei gramáticos. Olhei diversos “compêndios”. Alguns nem mencionam a palavra, mas Bechara, sim. Inclui o caso numa lista:

Alfaiate – alfaiata

Infante – infanta

Governante – governanta

Parente – parenta

Monge – monja

(os três casos grifados podem também ser invariáveis: p. ex., a governante)

Ou seja: se é amante da língua, devia tratar bem da palavra “presidenta”. Amar, talvez.

Finalmente, cito passagem de há dois aos de uma revista semanal que publicou matéria sobre a questão: “A edição do Dicionário Houaiss consultada é de 2009, ou seja, de antes da eleição de Dilma. Mais do que isso, segundo especialistas da equipe do Dicionário Aurélio, o termo existe pelo menos desde 1872, existia no dicionário Cândido de Figueiredo em 1899 e foi incorporada aos outros compêndios do nosso idioma em 1925. Machado de Assis, o grande escritor brasileiro, usa a palavra em seu mais do que clássico Memórias Póstumas de Brás Cubas, publicado em 1880” (Carta Capital 29/11/2014).

O melhor tratamento da questão do gênero em português é o que sustenta que ele é marcado no artigo – ou no adjetivo. OU seja, não é na desinência ou terminação nem no final da palavra. O que explica casos como “o poeta / a poeta”, “o caixa / a caixa” e outros solteiros, como “o revolver” – nada na palavra indica gênero etc.

Quando palavra designam seres animados, o meme sugere que se deveria fazer coincidir gênero gramatical e sexo biológico (hoje, menos claro).

Há duas maneiras básicas de fazer isso: uma flexão, com o em “menino / menina” (a flexão é o –a de  menina; o –o de menino mereceria páginas estruturalistas – in absentia etc…). Outra é marcar no artigo, apenas. “o presidente / a presidente” é uma saída.

Quem quiser, que adote. Mas não me venha com pose de sabichona. Vai estudar!!

É óbvio que “a presidente” já define gênero (eventualmente, sexo). Por isso, é claro que quem diz “a presidentA” acrescenta um traço de militância a um traço gramatical.

Mas não o inventa, como se viu.

Achar isso é ser bem amador. Ou amante, mas num sentido bem tradicional: é a outra, só tem acesso eventualmente, nas folgas.

Acho que Carmen Lúcia estudou gramática num apostilão.

 

AS CONTAS DE MOURA CASTRO E OUTROS PALPITES

Cláudio de Moura Castro é graduado em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais, mestre pela Universidade Yale e doutor pela Universidade Vanderbilt. Mas deve ter faltado a algumas aulas do ensino fundamental, como pretendo mostrar considerando alguns números que ele apresentou em artiguinho publicado na Revista Veja de 27/7/2016.

Circulam muitos protestos contra o autor, que podem ser facilmente recuperados digitando o nome dele o google.  Mas a maioria apenas rejeita suas posições contrárias aos professores. Quero mostrar um pouco de seus cálculos (já que é economista, ah! ah!).

Seu tema é o salário do professor. Discorre sobre várias questões até relevantes, como o salário e qualidade do trabalho, a estabilidade no emprego etc. Mas trata delas mais ou menos como trata uns números. O que vou mostrar.

Faz uma lista de “direitos” dos professores:

– 45 dias de férias por ano somam 37,5 meses fora das salas de aula.

– licenças prêmio somam 12 meses sem lecionar.

– 10 faltas anuais por saúde rendem 8,3 meses de folga.

Estes números representam 6,5 anos. Deles conclui que professores trabalham 19 anos (refere-se a um tempo em que a aposentadoria era aos 25 para mulheres e faz de conta, parece, que não há homens no magistério).

Tem mais:

– afastamentos para mestrado e doutorado somam 72 meses (sem dar aulas)

– 2 gestações rendem 12 meses de folga

– 4 candidaturas a vereador rendem 12 meses de licença

Somando tudo, Castro chega à conclusão de que professores podem “folgar” 13,5 anos, trabalhando apenas 11,45 anos nos 25 da carreira.

Primeiro, ele poderia ser mais cuidadoso com o elementar, os números. Não vou bater muito. Só vou lembrar um detalhe: cursar mestrado e doutorado não necessariamente tira o professor das aulas. Muitos estudam e continuam com suas aulas nas escolas (e faculdades). Ele deveria ter feito um levantamento minimamente cuidadoso antes de sair chutando.

Uma pequena “digressão”: além de mestrado e doutorada consumirem 72 meses fora das salas de aula, está demonstrado, segundo ele, que as aulas não melhoram com os títulos. Isso deveria ser demonstrado. Mas, supondo que haja algum fundamento para tal afirmação, por que haveria tanta grita pelo aumento da escolaridade? Um bom professor de ensino fundamental seria alguém que completou o ensino fundamental que apenas repita o que aprendeu?

Somar todas as oportunidades de não estar nas aulas como se elas fossem consideradas por todos os professores é falta de matemática do ensino fundamental do autor.

Durante as férias, muitos trabalham: lêem, fazem cursos e reuniões. Ou só dar é aulas é que é trabalho? Quantos são os professores que se candidatam a cargos políticos? Para Castro, parece que todos.

Quantos fazem mestrado e doutorado? Para Castro, todos (se não pensa isso, pior, porque não distingue estes dos outros em seu textinho). Seria bom que tivesse razão, mas o número é muito baixo. Todos “tiram” dias por problemas de saúde? São 10 por ano?

Quantos chutes!

Suponhamos que tenha razão em relação a um certo número de professores, aqueles que dão à luz, se candidatam, tiram licenças de saúde, façam mestrado e doutorado etc.

Este tipo de gente faz contas muito engraçadas. Há uns 30 anos, Geraldi analisou um artigo de Antonio Ermírio de Morais (ver “O texto na sala de aula”) no qual o empresário tratava da baixa produtividade do brasileiro (papo velho, como se vê). Fazia cálculos do seguinte tipo: um ano tem 52 domingos, tem igual número de sábados, o que propicia folgas de 156 dias. Somando 30 dias de férias, chega-se a apenas 209 dias de trabalho, em média. E ele esqueceu os feriados. Além disso, muitos não trabalham (os menores e os idosos), diz ele… ETC.

Só faltou dizer que, para cada 24 horas, dorme-se pelo menos durante 8, gastam-se duas para comer, umas 4 ou 5 para chegar ao trabalho e mais algum tempo para determinados folguedos que exigem estar acordado.

Segundo gente que faz este tipo de conta, somos um país que NÃO trabalha com um professorado que não vai para a sala de aula.

É verdade que Castro escreveu para Veja, uma revistinha que aceita qualquer coisa. Mas não precisava exagerar.

 

 

 

 

AI MINHA GRAMÁTICA

Elio Gaspari, cuja obra sobre a ditadura militar é muito informativa, mas dá uma adocicada nas tramas que a mantiveram e por fim a derrotaram, escreveu texto ambíguo na Folha, no dia 29 de junho. A peça se chama “Há golpe”. Compara algumas das ações nas comissões que analisam o dito processo com interrogatórios de generais e ora pende para a reafirmação do título, não sem antes dizer que o que está em curso não é golpe, porque “vem sendo obedecida a constituição e todo o processo está sob a vigilância do Supremo Tribunal Federal” (esquece de dizer que ele não analisa o mérito, só definiu os procedimentos), ora pende para o outro lado, como no final, quando cita uma das acepções de “golpe” que o Houaiss registra (“ato pelo qual a pessoa, utilizando-se de práticas ardilosas, obtém proveitos indevidos, estratagema, ardil, trama”), o que equivale a dizer que o golpe é golpe.

Dois dias depois, Reinaldo Azevedo resolveu discordar de seu colega de colunismo folhiático. Claro, é um direito dele. O estranho é que pretendeu fazê-lo em nome da gramática. Depois de supostamente passar pela filosofia da linguagem, constata que Gaspari não escreveu “impeachment é golpe” (e faz desta expressão aquela análise da quinta série, com cópula e tudo), conclui que, se o fizesse, eliminaria circunstâncias e história e se fixaria numa imanência (socorro!).

Mas Gaspari não escreveu isso. Escreveu “há golpe”. Reinaldo A. acrescenta que Elio G. reconhece que o impeachment “não carrega em si a imanência (era o dia da imanência, acho) inconstitucional e ilegal”.

Gaspari driblou a imanência descrevendo “há golpe”. Segundo R. A., este tipo de escolha é consequência da escola moderna, que substituiu a gramática pela interpretação de textos (Gaspari deve ter estudado nela na semana passada).

Depois informa que “há” é verbo transitivo direto, que “golpe” é objeto direto e que essa é uma oração sem sujeito. Por isso, Gaspari não conseguiria responder quem deu o golpe. Nem se pode fazer a voz passiva e encontrar o agente da passiva, acrescentou.

Afirma ainda que não se pode postular um objeto (golpe) sem que se explicite seu sujeito (acho que gostaria de dizer agente). Fazer isso é dar um golpe quântico (palavras dele…)!

Em seguida, a pérola: quem exige uma resposta do autor não é ele, Reinaldo Azevedo. É a gramática!

Ora, tudo o que ele disse antes pode ser ouvido com o respeito que os democratas prestam às vozes discordantes (é golpe ou não é). Mas dizer que a gramática não permite que se diga “há golpe” é um golpe contra a gramática.

Se ele quer cobrar de Gaspari que informe quem é ou quem são os golpistas, pode fazê-lo. Mas não em nome da gramática. Pode ser em nome do jornalismo, da história, da clareza da narrativa, do direito de discordar. Et coetera.

Mas não em nome da gramática, repito. A não ser que empregasse o verbo “haver” como no século XV, quando se diziam frases como “o Rey Lear não ouue filhos, mas ouue tres filhas”.  Ou se sustentasse que qualquer oração como verbo “haver” não é gramatical.

Azevedo fez exatamente o que considera ruim: a interpretação de textos. Só que fez uma péssima interpretação do texto gramatical (cortou o que não lhe serve). E deixou de fazer a interpretação mais interessante, que tentaria compreender por que Gaspari “preferiu” não nomear os golpistas.

O lugar ao qual deveria dirigir-se para perguntar a Gaspari se há um agente do golpe (e qual ou quais seriam) não é a gramática do verbo “haver”, mas uma ideologia, uma perspectiva, uma “escolha”, a de não se comprometer com um aspecto da narrativa.

“Há golpe” é uma opção que a gramática oferece. Como permite que se diga “menino morto a tiros” e “os preços subiram”. Mas é claro que isso não é tudo. Repito: precisa-se exatamente de interpretação.

Quer saber quem são os golpistas? O pessoal que tem se aproximado de deputados e outros próceres (como dona Janaína) em aeroportos, saudando-os como “golpistas” repetidamente, em voz bem alta, sabe quem são.

É esse tipo de gente que pede “mais gramática” no currículo nacional.

 

CONSERTA-LO-Á?

Antes de tudo, fora Temer.

Tinha lido a nota abaixo, depois perdi a fonte. Mas, atualmente (às vezes isso é muito bom), pode-se recuperar uma notícia digitando algumas palavras num buscador. Foi o que fiz.

A nota me interessa por três razões. A primeira é que não se sabe qual foi a declaração de William Waack (teríamos que ir ao vídeo), porque a manchete “cita” uma declaração (“nos desacostumamos nos últimos 13 anos”)  e o corpo da matéria, outra (“a gente ficou desacostumado nos últimos treze anos com o jeito certo de falar” – o final nem foi para a manchete).

Este tipo de fato é objeto de propostas que reputo extremamente interessantes de Dominique Maingueneau, tratado, conforme o aspecto, com os conceitos de destacabilidade / destacamento, sobreasseveração e aforização (interessados podem ler “Frases sem texto”, editado pela Parábola).

A segunda razão é que a matéria fornece um exemplo típico de como nossos “intelectuais” tratam a língua: defendem formas e estruturas que não empregam e talvez não consigam empregar. Se outros empregam formas que consideram erradas ou menos “bonitas”, eles riem, mas não se dão conta de que eles também o (!) fazem.

Waak elogia a mesóclise, mas não consegue empregar a estrutura que deveria empregar se quisesse demonstrar que não foi à toa que elogiou Temer. Conforme se acredite em uma ou em outra citação, empregou uma próclise onde a gramática que elogia sem conhecer mandaria empregar uma ênclise (“Nos desacostumamos”, por “Desacostumamo-nos”). Se a citação correta for a outra, empregou uma estrutura bem informal, longe do estilo Jânio – Temer: “A gente ficou desacostumado…”.

Cito a matéria:

William Waack elogia bom português de Temer: ‘nos desacostumamos nos últimos 13 anos’.

Jornalista mandou direta para Lula e Dilma ao tecer elogios a Michel Temer.

No fim da noite desta terça-feira, 24, o jornalista William Waack comentou um polêmico pronunciamento feito pelo presidente em exercício Michel Temer, do PMDB. Falando sobre a nova meta fiscal e negando ser “coitadinho”, o “ex”-vice da presidente afastada Dilma Rousseff bateu na mesa e anunciou que se errar, não terá medo de corrigir um erro. Para dizer isso, no entanto, ele usou uma manobra no português conhecida como mesóclise – consertá-lo-ei – e fez piada do assunto. Após a repetição à exaustão do “consertá-lo-ei”, William Waack riu e disse que já estava desacostumado com líderes brasileiros que falassem bom português. “A gente ficou desacostumado nos últimos treze anos com o jeito certo de falar”, disse o jornalista citando o governo do Partido dos Trabalhadores, que está (mesmo afastado) com seu quarto mandato no poder. (Publicado: 25 maio 2016 É Manchete! Especialista em Brasil)

A terceira razão pela qual o texto interessa é que ele mostra, como numerosos outros casos, o contraste entre o que muitos supõem que deveria ser o efeito de uma boa escola, no que se refere a aprender português, e o que de fato fazem os falantes, no caso, os “cultos”, que falam uma variedade da língua que poderia servir de parâmetro para a avaliação da competência dos estudantes, seguindo uma a tradição que é conservadora.

Os defensores de que o português “antigo” é única alternativa precisariam desenvolver pelo menos uma das duas seguintes atitudes (ou calar sobre a questão): a) ouvir-se e perceber o que de fato falam; b) não dizer, se o conseguirem, que nem eles mesmos sabem falar direito…

Nada contra as formas antigas, desde que sejam consideradas antigas, tradicionais, etc., e não simploriamente “bom português”. Mas, também, nada contra “nos desacostumamos” e “a gente se desacostumou”

Se Temer tivesse dito “se errar, vou consertar”, talvez eu pudesse ter alguma esperança.  Por que “o bom negro e o bom branco da nação brasileira dizem ‘Me dá um cigarro’”.

Fora Temer

GOLPE?

Quem acha que o impeachment não foi golpe lê dicionários como quem acha que “presidenta” está errado:  não lê dicionários nem  gramáticas. 

Pode-se defender a tese do golpe citando cientistas políticos, juristas, pensadores. Mas também espiando o Houaiss, que dá as seguintes acepções: (ponho em negrito as mais próximas do golpe político que ocorreu no Brasil).

  1. movimento pelo qual um corpo vem a chocar-se com outro; pancada, batida

Ex.: deu um g. contra a porta

2     Derivação: por extensão de sentido.

impressão produzida por esse choque; contusão, traumatismo

Ex.: trazia no corpo manchas negras dos g. sofridos no acidente

3     Derivação: por extensão de sentido.

ferimento com rotura da pele; lesão, corte, incisão

4     pancada, murro, impacto violento dado com uma parte do corpo ou com um instrumento contundente ou talhante sobre pessoa, animal ou objeto

Ex.: <dava golpes no ar sem atingir o adversário> <golpes de martelo, de faca, de bengala etc.>

5     recurso ardiloso de ataque e defesa numa luta corporal

Ex.: g. de judô, de caratê etc.

6     Derivação: sentido figurado.

ato pelo qual a pessoa, utilizando-se de práticas ardilosas, obtém proveitos indevidos; estratagema, ardil, trama

Ex.: é um ingênuo, caiu direitinho no g. que lhe prepararam

7     Derivação: sentido figurado.

ação ou manobra desleal; rombo, desfalque

Ex.: <os seus g. foram descobertos a tempo pela polícia> <um g. na praça do Rio de Janeiro>

8     Derivação: sentido figurado.

acontecimento infausto; desgraça, choque, abalo

Ex.: a perda do filho foi um rude g. para o pobre velho

9     Derivação: sentido figurado.

ação ou acontecimento súbito e imprevisto; rasgo, lance

Ex.: <um g. de sorte> <um g. de gênio> <um g. de mestre>

10   Derivação: sentido figurado.

ato de derrubar ou dar fim a alguém ou alguma coisa

Ex.: <g. de misericórdia> <foi um g. certeiro em suas pretensões de fazer carreira política>

11   Derivação: sentido figurado.

ataque acintoso por meio de palavras, injúria, insulto

12   Derivação: sentido figurado.

corrente de ar ou vento

13   Derivação: sentido figurado. Diacronismo: obsoleto.

quantidade de coisas ou pessoas que entram ou saem de uma vez, multidão, grupo

14   Regionalismo: Amazônia.

talho dado na seringueira para obtenção do látex

15   Rubrica: música.

canção sincopada venezuelana em compasso ternário

Excluam-se as acepções 1, 2, 3, 4, 5 (esta só em parte, porque “recurso ardiloso” fica), 11, 12, 13 e 14. As acepções 6 e 7 precisam apenas de pequenas adaptações contextuais. Como 8, 9 e 10.

Só se pode rejeitar este designação achando que golpe só quer dizer ‘pancada”.

PS: Houaiss põe no rodapé a informação de que “golpe de estado” é, para muitos, um galicismo (o famoso KU D´ETÁ). Por isso as conotações políticas nem estão na lista.

Mas quem sabe hoje que é um galicismo (é como abajur)? Do jeito que as coisas vão, logo vai ser um brasileirismo.

O GILMAR MENDES DELES

Na quarta-feira passada, Gilmar Mendes mandou apurar denúncias contra Aécio Neves (ainda Furnas!), a  pedido de Janot. Na quinta, a pedido do advogado de Aécio, desmandou tudo. The Flash!

Também foi muito veloz ao conceder liminar sustando a posse de Lula na Casa Civil. Deu no mesmo dia do pedido! Também foi velocíssimo para cancelar uma verba de R$ 100.000.000, 00 para publicidade (uns jornais disseram que o ato pegou tudo: Zika, Olimpíadas etc…; li blogs até comemorando, porque grande parte da verba iria para a imprensa golpista; acho que Gilmar não se deu conta). Decidiu no próprio dia do decreto.

Mas sua “vista” na ação que pretendia acabar com doação empresarial às campanhas políticas demorou 13 meses para voltar ao plenário. Ficou esperando a votação da reforma política na Câmara!

Gilmar Mendes afronta os outros ministros. E nenhum reage.

Só Joaquim Barbosa fez isso uma vez.

(Não que isso salve Joaqui8m Barbosa; mas diminui ainda mais o tamanho dos outros)

MEU JOAQUIM BARBOSA

MEU JOAQUM BARBOSA

O ex-ministro Joaquim ora foi critIcado, ora posto em pedestal. Não sempre pelas mesmas pessoas ou grupos, claro, porque é assim com tudo.

Em sua condução do julgamento do dito mensalão, como relator, o que achei mais interessante (penso que isso teve muito a ver com sua eficácia) foi o fato de ter construído uma narrativa dos “fatos”, sem juridiquês. Acho até que isso que contribuiu para que muita gente pensasse que estava entendendo tudo.

Era uma narrativa monofônica!

Meu Joaquim Barbosa é o autor de pelo menos quatro declarações notáveis. Cito em ordem cronológica inversa, sem me preocupar com a exatidão das datas (quem quiser, pode encontrar tudo no Google).

  1. No dia da votação da admissibilidade do processo de impeachmeNt no Senado, disse, em algum evento (acho que não agradou a quem o convidou): “Como explicar ao mundo uma troca de comando tão espetacular? Nada sutil, apenas com a estampa de normalidade, como essa que está ocorrendo no dia de hoje. Como explicar ao mundo uma mudança tão brutal sem que ele, o maior interessado, o povo, tenha sido sequer cogitado como partícipe desse debate?”.
  2. Logo após aquela votação na Câmara, disse: “É de chorar de vergonha! Simplesmente patético!”
  3. Nos dias em que o TCU estava na berlinda, por causa do parecer do notório “ministro” Nardes, relator da contas de Dilma, disse que o “TCU é playground de políticos fracassados”.

 

  1. Em abril de 2009, durante discussão com Gilmar Mendes, o mais notório dos ministro do STF, no plenário do Supremo, gritou: “Vossa excelência quando se dirige a mim não está falando com os seus capangas do Mato Grosso”.

Meu Joaquim Barbosa é o que foi esquecido.